O poder do império :
Se houvesse alguma decência, já Portugal deveria ter pedido
desculpas à Bolívia e ao seu presidente
Enquanto acompanhávamos a novela da crise, as diatribes de
Portas, a continuação ou não do governo, o desempoeiramento de Seguro, a
gritaria do costume, desenrolava-se em segunda linha um acontecimento que, em
circunstâncias normais, num país normal e decente, teria sido motivo para a
demissão imediata do ministro dos Negócios Estrangeiros.
Sem precisar de escrever cartas irrevogáveis nem fazer
destrambelhar ainda mais a desconfiança de quem nos empresta dinheiro para
sobrevivermos. Refiro-me ao caso do avião do presidente boliviano Evo Morales,
proibido de sobrevoar o espaço nacional devido à suspeita, que se sabe ser
falsa, de levar a bordo, numa viagem a partir de Moscovo, o espião americano
Edward Snowden. Não foi apenas Portugal que interditou a viagem daquele Chefe de
Estado. Outros países europeus, entre os quais a Espanha e a França, tomaram a
mesma decisão. Até hoje não se sabe quem deu essa ordem.
Mas é fácil de saber quem está por detrás desta interdição do
espaço europeu e, ao mesmo tempo, perceber a profunda hipocrisia das relações
diplomáticas, a subserviência e o medo das chancelarias europeias face ao poder
dos verdadeiros donos do Mundo. Snowden denunciou crimes graves cometidos pelos
serviços de segurança norte-americanos que terão controlado e invadido a
privacidade de milhões de utilizadores das redes sociais e, até, de instituições
governamentais europeias.
Os países da União Europeia reagiram num protesto que parecia
um balido de cordeiro, sem dignidade nem respeito por si próprios e os EUA
lançaram uma caça ao homem como não há memória. Snowden pediu asilo político a
vários países.
Claro que nenhum país europeu, sobretudo aqueles que se
deveriam sentir traídos pelo seu aliado, ousaram responder. E como é habitual
nestas andanças, um qualquer agente de espionagem norte-americano sugeriu que o
homem estaria no avião do presidente Morales. Terá sido o suficiente para que se
fechasse o espaço aéreo europeu por causa desta suspeita sujíssima e falsa.
Só por isso, se houvesse alguma decência, já Portugal deveria
ter pedido desculpas à Bolívia e ao seu presidente. Assim como os restantes
países. Porém, quando o império americano ruge, esta folgazona União Europeia
estremece.
Quieta, submissa, serva à voz do dono.
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