CAPITÃES DE ABRIL DE 1974
A Rádio portuguesa teve neste dia o seu momento alto, sem a colaboração da rádio
era possível que o regime ainda durasse mais algum tempo e o país continuasse
mergulhado na “longa noite da ditadura”.
A colaboração entre revoltosos e a rádio
começa muito antes do dia 25 de Abril de 1974. Os contactos são feitos entre
militares e jornalistas de várias emissoras, preparando-se tudo para que a
revolução resultasse. 5 minutos antes das 23h, do dia 24 de Abril de 1974, na
rádio Alfabeta dos Emissores Associados de Lisboa, o locutor de serviço - João
Paulo Dinis - "lançou" a música "E depois do adeus" de Paulo de Carvalho. Era o
sinal para as tropas avançarem.
Na Rádio Renascença a gravação do
alinhamento, que viria a ser o sinal para o desencadear das operações, foi feita
na tarde do dia 24 de Abril, por Leite de Vasconcelos, para ser emitida no
Programa «Limite», que era realizado em directo, mas algumas partes eram
previamente gravadas. Era numa dessas gravações que estava a «senha» - a
primeira quadra da música «Grândola, Vila Morena», de Zeca Afonso. Passavam
vinte minutos da meia-noite, quando a gravação foi
difundida:
Grândola vila morena
terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade
Esta segunda senha confirmou a primeira. A
partir daqui todo o movimento era irreversível. O Rádio Clube Português é
transformado no posto de comando do «Movimento das Forças Armadas», por este
motivo a emissora fica conhecida como a "Emissora da Liberdade".
Aos Microfones do Rádio Clube Português,
Joaquim Furtado lê o primeiro comunicado às 04h26:
«Aqui posto de comando do Movimento das Forças
Armadas.
As
Forças Armadas portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa
no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima
calma.
Esperando sinceramente que a gravidade da
hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal,
para o que apelamos ao bom senso do comando das forças militares no sentido de
serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas.
Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais, que enlutariam e criariam divisões entre portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais, que enlutariam e criariam divisões entre portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa
preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português,
apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua
ocorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, o que se
deseja sinceramente desnecessária.»
Bibliografia sobre a Rádio e o 25 de abril:
E Depois do Adeus
Paulo de Carvalho
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder.
Tu viste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci.
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor
Que aprendi.
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.
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