JOSÉ EDUARDO MONIZ |
O urso e a cegueira
A austeridade em que o ministro das Finanças é mestre não pode ser o único remédio para a herança pesada que foi deixada por várias Governos, em especial, pelos últimos, de Sócrates.
O combate ao "urso gordo", que é como Vítor Gaspar qualifica o défice, não justifica o estrangulamento cego da economia. Governar é resolver os problemas das pessoas, tentando, mesmo na adversidade, encontrar soluções que envolvam equilíbrio e sensibilidade social.
Percebe-se o aperto de todos estes meses, reconhece-se que a
estratégia convenceu o BCE, o FMI e a UE a manterem a canalização de muitos
milhões de euros para Portugal, mas é inaceitável o preço tremendo que mais de
um milhão de cidadãos estão a pagar. A avassaladora destruição de emprego
ocorrida nos doze meses de vigência do acordo com a troika supera as mais
desoladoras expectativas. A angústia de tanta gente lançada para os braços do
desemprego e a desesperança de milhares de jovens chocam qualquer alma
empedernida. Neste contexto, em nada contribuíram para suavizar o panorama as
desajeitadas palavras de Passos Coelho, há dias, sugerindo que a perda de
emprego deveria ser também encarada como uma oportunidade.
Não me passa pela cabeça que a afirmação do primeiro-ministro
não tenha sido mais do que uma formulação infeliz, mas a mesma denuncia que o
Governo parece à toa, apanhado, também ele, com uma perna no ar, pela força
desenfreada com que o fenómeno se manifesta. É, de facto, altura de reconhecer
que alguma correcção de rota precisa acontecer, mesmo que o objectivo do combate
ao défice não abrande, tornando-se visível a necessidade de cultivar consensos
que evitem acrescentar uma crise política e a instabilidade das ruas à disrupção
económica e ao drama social a que o País assiste.
Nesse sentido, foi um colossal erro político o envio para
Bruxelas do Documento de Execução Orçamental sem consulta ao PS. É por estas e
por outras que a História nos lembra os inúmeros casos que comprovam que o poder
não se ganha: perde-se. As lições que vêm da Grécia, de França e até da Alemanha
entram pelos olhos dentro. A decisão de permitir que desempregados possam
acumular parte do subsídio com um salário, desde que inferior ao anteriormente
auferido, embora constitua um pequeno passo, tenta romper com a noção de
insensibilidade e frieza de que as políticas governamentais vêm parecendo
impregnadas.
Coincidiu com outra resolução importante: os cortes nos custos
da produção eléctrica. Já não era sem tempo, num país desamparado, com indígenas
a acotovelarem-se nos saldos do Pingo Doce e à beira do pânico que os ventos
gregos para cá empurram.POIS É :
E O POVINHO NA MISÉRIA !!!!...
ATÉ QUANDO ????
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