sábado, 18 de janeiro de 2014

""" o grande poeta ARY DOS SANTOS """ morreu faz hoje 30 anos 18/1/2014


                                                                                       


ARY DOS SANTOS

Serei tudo o que disserem": Ary morreu há 30 anos

Várias iniciativas assinalam o desaparecimento do poeta que mais terá cantado a Revolução de Abril.
Bárbara Matias


Foram dele muitas das palavras sobre as portas que abril abriu. Poeta empenhado, militante, apaixonado por causas e pessoas, José Carlos Ary dos Santos morreu há 30 anos.
A vida e obra deste criador exuberante serão lembradas em Lisboa este fim de semana. A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) programou para hoje, às 18h30, no Auditório Frederico de Freitas, uma palestra a cargo de Ruben de Carvalho, um dos grandes amigos de Ary dos Santos. José Fanha dirá poemas do livro "Fotos-Grafias".
Também o espetáculo "Ary rima com Lisboa", que conta com Fernando Tordo (voz e guitarra), com a cantora Mitó Mendes, do grupo "A Naifa", e com João Tordo na sua faceta de contrabaixista, homenageia o poeta, amanhã a partir das 18h, no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz.

Nos olhos uma folha de hortelã



José Carlos Pereira Ary dos Santos nasceu em Lisboa a 7 de dezembro de 1937 no seio de uma família da alta burguesia. Nasceu depois, de novo, para a poesia, aos 14 anos, quando a família lhe publica, contra a sua vontade, alguns poemas no livro "Asas".
Aos 16 vê poemas de sua autoria serem selecionados para a Antologia do prémio Almeida Garrett. Foi aí que, rebelde, "caminhou de olhos deslumbrados" rumo à independência, saindo de casa dos pais. Vendeu máquinas de pastilhas, foi paquete na Sociedade Nacional de Fósforos, escriturário no Casino Estoril, fez publicidade.
Terá sido tudo isso e muito mais, mesmo se o que verdadeiramente o movia era o irreprimível desejo de poesia. Em 1963 é publicado o livro de poemas "A liturgia do sangue".
No ano seguinte lança o "Tempo da lenda das amendoeiras" e o poema "Azul existe", representado no Tivoli, no Teatro da Estufa Fria e na RTP.
Os estudos nunca foram lineares. Foi expulso do Colégio Infante Sagres, passou pelo colégio interno Instituto Nuno Álvares, em Santo Tirso, e não chegou a concluir nenhum curso superior, apesar de ter frequentado as faculdades de Direito e de Letras de Lisboa.
"Original é o poeta" e, por isso, Ary dos Santos foi continuadamente publicando livros de poesia.
"Adereços, endereços", em 1965; "Insofrimento in sofrimento", em 1969; "Fotos-grafias" (apreendido pela PIDE em 1971); "Resumo", em 1973; "As portas que abril abriu", em 1975; "O sangue das palavras", em 1979; e, em 1983, "20 anos de poesia".
À data da sua morte preparava a obra "As palavras das cantigas", publicado em 1989 pelas Edições Avante!,  com coordenação de Ruben de Carvalho.
Estava também a escrever uma autobiografia romanceada, que desejava cunhar de "Estrada da Luz - rua da saudade". Postumamente, em 1994, foi editada "Obra poética", coletânea dos poemas de Ary dos Santos.
A sua voz vibrante fá-lo declamador em várias edições discográficas. O seu primeiro disco, "Ary por si próprio", sai em 1970. No ano seguinte participa no LP "Cantigas de amigos", juntamente com Natália Correia e Amália Rodrigues.
Em 1974 é divulgado "Poesia política"; em 1975 "Llanto para Afonso Sastre y todos"; em 1977 "Bandeira comunista"; em 1979 "Ary por Ary" e, no ano seguinte, "Ary 80", reeditado em CD em 1999. 

Era uma vez um país



Ary dos Santos foi, também, um ativo militante político. Correu o país de lés a lés, às vezes sozinho perante plateias emocionadas com o seu singular modo de dizer poesia, às vezes em sessões organizadas por estruturas populares nas quais participavam também os cantores de intervenção que, como ele, através da música e das palavras, tentavam interpretar o sentir de todo um povo.


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