PAULO DE MORAIS |
Deslaço
Os suicídios entre os desempregados são já uma realidade
quotidiana. 2013, annus horribilis.
A crise económica colocou milhões no limiar da sobrevivência.
Em desespero, muitos adotam comportamentos menos sérios, que jamais teriam, não
fosse a situação de aflição em que se encontram. Trabalhadores que sempre foram
honestos, incapazes de cobrar uma despesa indevida, que nunca apresentariam um
almoço a mais na sua empresa, inventam agora faturas numa tentativa de comporem
o seu orçamento familiar. Empregados de cafés e tabacarias fingem enganar-se nos
trocos e aproveitam a distração de clientes, que assim são alvo de confisco, sob
a forma de gorjetas involuntárias. Quebram-se redes de confiança de anos entre
concidadãos que partilham o dia a dia. Também entre empresas o ambiente se
deteriorou. Empresários outrora ciosos dos seus compromissos atrasam pagamentos,
por impossibilidade ou até por desleixo.
Os que não recebem não conseguem também pagar, numa cadeia
infernal de incumprimento e desconfiança. Onde havia relações sólidas de
negócios e amizade, chega agora a charlatanice. Dentro das organizações, o
respeito mútuo desaparece. É já comum as entidades patronais baixarem
unilateralmente salários e atrasarem pagamentos. Muitos dirigentes já nem sequer
dão satisfações aos seus funcionários; estes já não sabem se e quando recebem
aquilo a que têm direito. Esta praxis instala-se progressivamente, justificada
pelo comportamento do próprio Estado, que reduz vencimentos e pensões,
desrespeitando todos os compromissos. Porque não seguir--lhe o exemplo os
patrões na privada? Desmotivados, os trabalhadores falham também as suas
obrigações.
Com a crise, adveio a degradação ética nos negócios, acabou a
moral nas empresas, diminuiu o respeito pelos trabalhadores. Mas também a vida
familiar se corrompe. Com o aumento do desemprego e das dificuldades económicas,
amplificam-se os conflitos. Cresce assustadoramente a violência doméstica. A
inatividade gera vícios, o alcoolismo e a droga recrudescem. Os comportamentos
pessoais, familiares e sociais adulteram-se.
Os suicídios entre os desempregados são já uma realidade
quotidiana. 2013, annus horribilis. O ambiente empresarial é depressivo. A
cadeia de confiança entre os cidadãos está a romper. As famílias desintegram-se.
A rede social deslaçou.
pois : estamos na desgraça !!!!!....
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