Verão quente
A Europa prepara-se para um Verão quente. A banhos há mais de
dois anos, os seus responsáveis não entenderam os verdadeiros perigos que a zona
euro corria depois do desencadear da crise financeira internacional em 2008.
Sobretudo a ‘Alemanha Fortaleza’ estimou mal os seus recursos para se manter em
segurança monetária sem se fazer rodear por um alargado perímetro económico de
crescimento que englobasse os países da zona euro. Pelo contrário, preferiu
construir a tese segundo a qual a crise das dívidas soberanas seria meramente
periférica e devida aos desvarios hedonistas das populações do arco solar dadas
à ‘siesta’ não-transaccionável. Com a cumplicidade tonta de Sarkozy, empurrou a
Grécia para uma situação em que as medidas necessárias para Atenas se manter no
euro são equivalentes às que terá de tomar caso venha a optar por sair da
inóspita zona monetária sediada em Frankfurt, onde se abrigou na viragem do
século.
Os ‘planos de resgate’ sucederam-se assim numa versão errática
de protectorados financeiros: depois da Grécia sucedeu-se a Irlanda e Portugal,
mas as marcas territoriais estenderam-se rapidamente à Espanha, Chipre, à eterna
Itália e à novel Eslovénia. Fora da zona euro, gemem a Hungria, a Estónia e o
mais que agora se anuncia.
Ora o que agora se anuncia é a própria desacreditação dos
rankings de triplo A da banca alemã e do Fundo Europeu de Estabilidade
Financeira (FEEF) que têm servido de garantia aos empréstimos internacionais
para alguns países da zona euro a taxas de juro mais baixas. O incêndio está
pois a chegar às melhores searas que se julgavam protegidas.
Só o BCE, intermitentemente, parece querer evitar a catástrofe
monetária, tendo para o efeito de desrespeitar os seus próprios estatutos. Esses
estatutos são a prova da má-fé de alguns dos seus promotores e foram elaborados
com reserva mental. Os estatutos do BCE não estão feitos para optimizar a zona
monetária e são um obstáculo à ultrapassagem da crise financeira europeia.
O pior é que a crise se avoluma e está agora centrada na
Espanha, onde funciona o jogo do empurra. Depois da crise bancária, ainda não
resolvida, já há quem queira envolver as autonomias no problema. Prevê-se
turbulência.
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