PROFESSOR MEDEIROS FERREIRA |
D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA |
Corrupção sem provas
Num quase deserto de referências morais, é uma voz incómoda
para os instalados e os que se querem instalar. Assisti, em directo, à
retumbante entrevista conduzida por Paulo Magalhães na TVI 24, que extravasou o
tempo previsto, o que demonstra o interesse provocado.
Gostei da primeira parte da entrevista que considero notável,
mas dei-me conta de que, na parte final, o bispo deu mostras de alguma fadiga
momentânea, altura em que divagou mais em abstracto. Foi nessa altura que se
referiu a um "governo profundamente corrupto" e aos "diabinhos negros" que o
habitarão, o que deu o pretexto para ser amaldiçoado em vários púlpitos, a
começar pelo usado por Aguiar Branco. Este chegou a ameaçar o bispo das Forças
Armadas com a obrigatoriedade de uma opção entre tal cargo e o de "comentador",
a nova besta negra do governo.
A crítica aparentemente mais sensata que se faz ao bispo é
aquela em que se pede a D. Januário que prove as afirmações de corrupção. Ora
essa crítica só pode provir de quem não vive em Portugal e exige mais a um
cidadão sobre matéria tão incandescente do que às instituições vocacionadas para
o efeito. Num país onde a PGR não conseguiu provar em tribunal rastos de
corrupção em casos como o de Portucale ou o do Freeport, não se pode evitar que
a opinião pública divague sobre outros, como o dos submarinos, que nem chegaram
a ser investigados em Portugal quando o foram noutras comarcas estrangeiras.
E não é verdade que, mal o actual governo procedeu às primeiras
privatizações (REN e EDP), já se suspeita de tráfico de influências, abuso de
informação privilegiada, fuga aos impostos e corrupção? Sim, corrupção que a
DCIAP estará a investigar actualmente. Claro, são precisas provas para acusar em
tribunal, e é bom que elas sejam concretas e obtidas como deve ser. Mas essa
gente não se confessa, nem a D. Januário nem ao tribunal, e a sociedade alguma
forma de travão deve possuir. Nem que seja só a da opinião pública qualificada.
Não se cale, D. Januário Torgal Ferreira.
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